Estudo mapeia mudanças no clima do Mato Grosso do Sul

No Mato Grosso do Sul, a porção norte do estado poderá apresentar um aumento de até 5,8°C graus na temperatura e uma redução de até 19% no volume de chuvas nos próximos 25 anos. Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita sobre o Mato Grosso do Sul, que identificou a vulnerabilidade à mudança do clima nos 79 municípios do estado. Coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estudo é uma das atividades realizadas no âmbito do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima, feito em parceria com o Ministério do Meio Ambiente.

Os resultados da pesquisa foram compartilhados durante o Seminário Indicadores de Vulnerabilidade à Mudança do Clima, que ocorreu nesta quarta-feira (30/11) em Campo Grande (MS). Para o coordenador do projeto, Ulisses Confalonieri, este trabalho possibilitará aos gestores avaliar, por meio de mapas e gráficos, qual parte do território está mais e menos vulnerável às alterações do clima e os mais aptos a se recuperarem de possíveis impactos climáticos. “O Mato Grosso do Sul é o único representante da região centro-oeste a participar do estudo. Além dele, foram escolhidos mais cinco estados para serem avaliados: Amazonas, Espírito Santo, Maranhão, Paraná e Pernambuco. Também foi desenvolvida uma ferramenta, um software, que ajuda a quantificar a vulnerabilidade humana às mudanças climáticas, conforme cada município”, ressalta o pesquisador da Fiocruz Minas.

Dias mais secos

A pesquisa feita sobre os municípios sul-mato-grossenses indica que a porção sul do estado poderá ser a mais afetada em relação ao número de dias secos consecutivos no ano, índice chamado de CDD. Na cidade de Japorá, por exemplo, o aumento no número de dias seguidos sem chuva poderá chegar a 12,6%, seguida por Sete Quedas (12,2%) e Tacuru (11,5%).

O município de Novo Horizonte do Sul apresentou o CDD mais elevado do estado, com um aumento de 15,2% para os períodos de estiagem. Esta situação é diferente em cidades localizadas na parte central, como Rochedo e Corguinho. Nelas, os dias seguidos sem chuvas permanecerão os mesmos em comparação com o período atual.

Mais calor e menos chuvas

Em relação à temperatura máxima, Corguinho poderá ter um incremento de até 5,8°C para os próximos 25 anos. Os municípios da porção norte serão os mais afetados, assim como algumas cidades localizadas na parte leste do estado. Em Paranaíba e Aparecida do Taboado o aumento pode chegar a 5,7°C para o período de 2041 a 2070.

O Alto do Taquari pode ser uma das regiões mais impactadas pela redução do volume de chuvas. Em Coxim e Rio Verde do Mato Grosso, por exemplo, a precipitação poderá diminuir 19,3%. Na parte leste do estado, a pluviosidade pode reduzir até 17,6%, como é o caso do município de Selvíria.

Campo Grande apresenta uma elevação de 5,4°C na temperatura e uma redução de 8,3% na precipitação. Em relação ao número de dias seguidos sem chuva, a capital pode ter uma diminuição de 5,4%.

Mudança do clima no Pantanal

As projeções feitas no estudo indicam possíveis consequências para o Pantanal. Por ser um bioma úmido, que depende do ciclo de cheias e secas, o aumento da estiagem pode impactar no ciclo de inundações e na diminuição da biodiversidade, por causa das alterações no processo reprodutivo de plantas e animais.

As mudanças do clima também podem provocar transformações em fenômenos naturais recorrentes no Pantanal, como o período das cheias dos rios. Por causa das alterações no volume de chuvas e elevação da temperatura, podem ocorrer eventos extremos, como secas e alagamentos. Estes fenômenos climáticos poderiam impactar no Pantanal, a perda do potencial de pesca e, em outras partes do estado, a redução da produção agrícola, afetando diretamente a segurança alimentar das populações que vivem nessa região. Outro impacto que pode ser apontado nesse cenário futuro é o aumento de doenças, devido à proliferação de vetores.

Vulnerabilidade dos municípios

As pesquisas realizadas sobre o estado consideram informações de cada município relacionadas a fenômenos extremos, a exemplo de tempestades, e doenças vinculadas ao clima, entre elas, dengue, leptospirose e leishmaniose. Dados sobre a população, envolvendo saúde e condições socioeconômicas e a capacidade dos municípios para lidarem com as mudanças climáticas também são utilizados.

As informações coletadas são associadas a três elementos – exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa da população, considerando dois cenários de clima futuro: um com redução nas emissões de gases do efeito estufa e menor aquecimento global, e outro que considera o aumento contínuo dessas emissões com maior impacto no clima. A partir da combinação e análise desses dados, é possível calcular o Índice Municipal de Vulnerabilidade (IMV) e outros indicadores.

As projeções feitas na pesquisa indicaram que os municípios mais vulneráveis à mudança do clima seriam Rio Verde do Mato Grosso, Rio Negro e Sonora e os menos vulneráveis seriam Jateí, Naviraí e Chapadão do Sul. As cidades mais expostas às alterações climáticas foram Maracaju, Três Lagoas e Coxim, em virtude de desmatamentos, variações bruscas de temperatura e ocorrência de eventos extremo, como secas e enxurradas. Em relação à sensibilidade, que indica a intensidade com a qual os municípios são suscetíveis aos impactos do clima, Juti, Taquarassu e Paranhos seriam os mais impactados.

O estudo apontou que Campo Grande, Chapadão do Sul e Costa Rica foram considerados os municípios mais adaptados para lidar com as mudanças clima, devido à existência de infraestrutura de saúde, como leitos hospitalares, plano de contingência de desastres e atuação da Defesa civil. Coronel Sapucaia e Novo Horizonte do Sul seriam os menos adaptados.

Fiocruz