Especialidades médicas: quais as prioridades para o futuro do SUS?

Planejar o fortalecimento e aprimoramento do Sistema Único de Saúde (SUS) em longo prazo, tendo um horizonte móvel de 20 anos. Este é o objetivo do projeto Brasil Saúde Amanhã,  rede de conhecimento coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que desenvolve estudos de prospecção estratégica e traça os cenários futuros para o sistema de saúde brasileiro. Na última quinta-feira, 13 de novembro, a iniciativa deu mais um passo em direção à orientação de políticas públicas na área, com a realização da oficina de trabalho Desafios Metodológicos nas Estimativas da Força de Trabalho de Médicos Especialistas em Cenários de Longo Prazo.

Ouça: O pesquisador José Carvalho de Noronha, coordenador do projeto Brasil Saúde Amanhã, avalia a oficina de trabalho Desafios Metodológicos nas Estimativas da Força de Trabalho de Médicos Especialistas em Cenários de Longo Prazo.

O encontro reuniu pesquisadores da rede de conhecimento que compõe o projeto Brasil Saúde Amanhã, organizados em sete áreas temáticas: Desenvolvimento em Saúde, Condicionantes da Saúde, População e Saúde, Organização do Sistema de Saúde, Financiamento Setorial, Complexo Econômico Industrial da Saúde e Prospecção Estratégica e Saúde. Conheça as áreas temáticas do projeto Brasil Saúde Amanhã.

“A formação de recursos humanos para o SUS é uma questão preponderante no esforço para o fortalecimento e aprimoramento do sistema de saúde em médio e longo prazo. Por isso, a Fiocruz vem se dedicando aos estudos de prospecção estratégica e agora ajusta o foco sobre as especialidades médicas, para definir quais são as prioridades do Brasil neste campo”, afirma Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz.

O coordenador do projeto Brasil Saúde Amanhã, o pesquisador José Carvalho de Noronha, explica que a abordagem leva em conta a transição demográfica e epidemiológica que o Brasil vem passando – e as mudanças recentes na dinâmica de adoecimento e morte dos brasileiros. “O planejamento em longo prazo também trabalha com a movimentação territorial da população. Conhecer o trânsito populacional é fundamental para pensar políticas públicas de saúde em longo prazo, sobretudo em um país de dimensões continentais como o Brasil. A partir do estudo das tendências de mobilidade territorial da população, podemos planejar como serão os fluxos de atenção à saúde, o que é essencial para definir as especialidades médicas necessárias em cada contexto”, complementa Noronha.

Para iniciar o debate, o pesquisador Francisco Carlos Cardoso do Santos, do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou os critérios utilizados para o planejamento de modelos de atenção nas especialidades médicas. A metodologia integra variáveis como a oferta e a demanda de médicos especialistas no país e a estratégia de benchmarking, que utiliza dados internacionais para efeito comparativo.

“Chegamos à uma estimativa de que, para ter uma cobertura satisfatória, o SUS precisa, por exemplo, disponibilizar 6,5 cardiologistas por cada cem mil habitantes. Muitos Estados já ultrapassam esta proporção; outros ainda não atingiram o índice esperado. Agora, temos uma meta clara para a distribuição de cardiologistas pelo território brasileiro e, a partir dela, podemos pensar políticas públicas para a organização e distribuição de recursos humanos no SUS. Precisamos, também, investigar a situação de outras especialidades médicas, de forma a ampliar o acesso da população brasileira à atenção especializada em saúde”, aponta Francisco.

O pesquisador revelou, ainda, dados sobre os serviços de urgência e emergência Em Minas Gerais. Segundo o estudo, 202 municípios deveriam ser contemplados com pelo menos um ponto de atenção à urgência e emergência; 36 municípios não contam nem mesmo com pequenos hospitais registrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES); e 166 municípios têm hospitais registrados, que abrigam ou poderão abrigar pontos de atenção à urgência e emergência.

Na parte da tarde, os pesquisadores formaram três grupos de trabalho para discutir o desenvolvimento de metodologias para estimativas de especialidades médicas e repensar as dificuldades enfrentadas nas estimativas de força de trabalho das especialidades médicas. A rede de conhecimento do projeto Brasil Saúde Amanhã segue desenvolvendo as pesquisas para a prospecção estratégica do futuro do sistema de saúde brasileiro e outras oficinas temáticas já estão previstas.

“A prospecção estratégica não é um trabalho estático, ao contrário, deve ser atualizada a todo o momento, diante de novas informações e das transformações que a todo momento reformam o campo da Saúde Pública. Daí a importância da realização de oficinas temáticas como esta, que discute a questão dos recursos humanos e das especialidades médicas. É a partir da prospecção estratégica que podemos planejar mais assertivamente desde o desenvolvimento de pesquisas científicas até a nossa ação política”

Marina Schneider
Saúde Amanhã
18/11/2014