Mudanças climáticas e do uso do solo geram riscos de escassez de água

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Academia Chinesa de Ciências (Ucas) e do Met Office, no Reino Unido, revelou que as emissões de gases de efeito estufa estão provocando eventos de chuva mais fortes e flutuações mais drásticas entre períodos secos e úmidos, o que torna a gestão das águas pluviais mais complexa e desafiadora. As análises revelaram que a variabilidade diária da precipitação global cresceu 1,2% por década desde 1900 e que mais de 75% das áreas terrestres sofreram com esse aumento. A variabilidade da precipitação se refere à irregularidade temporal e a quantidade de chuva, que resultam em períodos de seca mais prolongados e intensos e tempestades torrenciais mais frequentes.  Os impactos dessas mudanças são maiores na Europa, Austrália e leste da América do Norte.

Além dos padrões atuais da variabilidade da precipitação que provoca longas secas, a segurança hídrica global enfrenta novos desafios. Uma pesquisa da Universidade de Estocolmo, publicada na Nature Water, destacou a importância de considerar a origem da umidade que gera a chuva ao avaliar o risco de escassez de água. Os cientistas estudaram 379 grandes áreas hídricas ao redor do mundo e descobriram que a demanda por água, que chega a 32,9 mil quilômetros cúbicos por ano, está mais ameaçada do que se pensava. O risco de escassez do recurso é quase 50% maior do que o calculado usando métodos tradicionais, que só consideram a área acima das bacias. Tradicionalmente, a segurança hídrica tem sido avaliada com base na quantidade de água armazenada em aquíferos, lagos e rios. Os riscos, segundo o estudo, são significativamente maiores se for considerada a umidade a favor do vento — aquela evaporada de outras áreas – que contribui para a precipitação.

A pesquisa também destacou a influência da governança e das mudanças no uso da terra nas áreas a favor do vento. Se o desmatamento e o desenvolvimento agrícola forem predominantes em regiões onde a umidade evapora, a quantidade de precipitação pode diminuir, aumentando os riscos à segurança hídrica. Conforme José Marín, doutor pela Universidade de Estocolmo e principal autor do estudo, os impactos das mudanças no uso da terra na disponibilidade de água em áreas a jusante dependem das transições de uso da terra e mudanças na evaporação. “A substituição de florestas por pastagens, por exemplo, reduz tanto a evaporação quanto a disponibilidade de água em áreas desmatadas e a favor do vento, respectivamente. Por outro lado, a conversão de terra seca em terras de cultivo irrigadas aumenta a evaporação e a disponibilidade de água”, afirmou o pesquisador ao jornal Correio Braziliense. O artigo reforça ainda a interdependência entre países e a importância de uma gestão integrada dos recursos hídricos. Um exemplo dessa interdependência é a Bacia do Rio Congo, na África, que enfrenta riscos por causa da falta de regulamentação ambiental e do desmatamento nos países vizinhos. As secas prolongadas também são consideradas um grande desafio. Ao contrário de desastres naturais repentinos, como terremotos ou furacões, elas se desenvolvem lentamente, o que seu gerenciamento mais difícil.

A conscientização global sobre o problema hídrico tem aumentado em parte devido ao acesso à informação facilitado pela internet, mas há uma grande disparidade na capacidade de enfrentamento dessa crise, segundo estudo recente divulgado na revista Clean Water, que mostra que países desenvolvidos têm mais recursos para gerenciar os impactos da seca do que os mais pobres, que com menos recursos e infraestrutura não estão preparadas para enfrentar secas severas. Jonghun Kam, pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pohang, na Coreia do Sul, e coautor do estudo sobre análise multidimensional da conscientização global sobre a seca, disse que as regiões mais pobres precisam de ajuda e de doações internacionais e que o estudo do qual fez parte contribui para construir um roteiro eficiente e eficaz para ajuda e doações internacionais para os países impacto com secas.

Fonte: Pesquisa internacional aponta pane em ciclo hídrico global (correiobraziliense.com.br)