O sanitarista Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, conversou com o site da Iniciativa Saúde Amanhã sobre a importância da publicação do IBGE Criando sinergias entre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o G20: cadernos desigualdade. Ele destacou o papel de instituições como IBGE, Ipea e Fiocruz na assessoria técnica permanente da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) e disse que a contribuição do IBGE é fundamental para o acompanhamento crítico, atualização e “nacionalização” dos indicadores propostos pela ONU para o monitoramento das metas da Agenda 2030. Gadelha lembrou ainda que dados como os da nova publicação do IBGE jogam luz não apenas sobre as desigualdades existentes no interior dos países mais ricos do planeta, mas, sobretudo, nas iniquidades existentes entre eles. “A exemplo do estudo comparativo dos Relatórios Voluntários Nacionais (RNV) realizado pela Fiocruz, o “Cadernos desigualdade” ajuda também a refletir sobre a finalização do RNV que o Brasil apresentará na próxima Assembleia Geral da ONU”, disse.
Qual é a contribuição dessa publicação do IBGE para o esforço do Brasil de cumprir as metas da Agenda 2030?
O IBGE é um órgão central para o desenvolvimento da Agenda 2030 em nosso país, por ser o responsável pela crítica e pela adaptação nacional dos indicadores desse processo. Essa publicação do IBGE é fundamental por trazer a Agenda 2030 para o âmbito do G20, com temas relativos ao campo das inequidades, como desigualdades de gênero e de educação, a fome e a pobreza. Com ela, o IBGE cria um instrumento para o G20 visualizar as assimetrias que acontecem entre esses países e, assim, municia uma discussão sobre a razão dessas assimetrias. O IBGE, com essa publicação, dá uma contribuição fundamental, em primeiro lugar, porque gera conhecimento e instrumentos para a reflexão, a análise e ações em torno do tema. Em segundo lugar, por disponibilizar esses dados para um fórum central do debate internacional, como o G20. Em terceiro, por mostrar que todos esses indicadores estão no cerne da razão de ser da Agenda 2030.
Como esse debate internacional sobre as iniquidades, travado no âmbito do G20, pode contribuir com o esforço do Brasil de cumprir as metas propostas pelos 17 ODS da Agenda 2030?
O Brasil, na presidência do G20, tem dado uma contribuição extremamente relevante ao mundo ao trazer a questão das iniquidades para o debate econômico, com os temas da fome e da pobreza, isso para não dizer da igualdade étnico-racial, que assumiu voluntariamente como sendo o décimo oitavo ODS. A aliança global que o Brasil propôs para combater a fome e a pobreza é uma grande novidade no G20. A questão agora é se esse aliança será aprovada e que grau de peso político e de recursos será empenhado nela. Esse é o desafio de fóruns internacionais, como os do clima, que têm que estar sempre buscando ampliar o escopo e o grau de eficácia de suas ações, ao mesmo tempo que lidam com limitações e interesses políticos e econômicos que, muitas vezes, provocam resultados em sentido contrário aos desejados.
O debate sobre as assimetrias na qualidade de vida da população travado em um fórum global, como o G20, acaba reverberando no campo nacional e provocando um debate interno sobre as razões das desigualdades que marcam a sociedade brasileira, além da troca de experiência entre os países para o enfrentamento desses indicadores. Mas, para isso acontecer, é importante que tenhamos dados comparativos que nos levem a pensar sobre a razão dessas assimetrias. Quando o IBGE delimita um campo de pesquisa – no caso os países do G20 que têm as maiores economias do mundo -, ele mostra que, mesmo nesse grupo restrito, há fortes assimetrias. Isso reforça a evidência da necessidade de adotar um modelo multidimensional para o enfrentamento das desigualdades e nos faz pensar que, apesar de todos esses países terem uma economia forte, as discrepâncias nos indicadores de educação, de pobreza e de gênero, por exemplo, são muito grandes, porque o modelo de desenvolvimento global hegemônico expressa seus efeitos perversos por meio de características diferentes em cada país.
Como estão, em paralelo aos debates preparatórios do G20, os trabalhos no Brasil sobre os ODS da Agenda 2030?
O Brasil continua em posição bastante desfavorável em vários indicadores, embora, durante o Governo Lula, estejamos no caminho de reconstrução e recuperação de vários deles. A Comissão Nacional dos ODS, reinstituída pelo presidente Lula em setembro do ano passado, está no processo final de elaboração de uma versão do Relatório Nacional Voluntário (RNV), um documento que os países se voluntariam a apresentar no Fórum Político de Alto Nível da ONU, que este ano será em julho, com a análise dos indicadores referentes à Agenda 2030. O primeiro desses relatórios, ainda muito incipiente, foi apresentado durante o Governo Temer e depois o Brasil não elaborou mais nenhum. No ano passado, a ONU realizou uma oficina no campus da Fiocruz com 24 países para discutir esses relatórios. No ano passado, a ONU realizou uma oficina no campus da Fiocruz com 24 países para discutir esses relatórios. A Comissão Nacional dos ODS vai entregar sua proposta para o Governo Lula, que avaliará o trabalho e apresentará a versão final à ONU. Ao se propor a apresentar mais um relatório, o Governo Lula reinseriu o Brasil nos debates internacionais sobre os ODS da Agenda 2030 e o desenvolvimento sustentável.