O professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP, José Eli da Veiga, esteve a convite da Iniciativa Saúde Amanhã dialogando sobre os desafios postos ao futuro pela presença do ser humano no planeta. O professor, autor de, entre outros livros, O Antropoceno e as Humanidades, dividiu a mesa com o geógrafo Christovam Barcellos, coordenador do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz e pesquisador do Icict-Fiocruz, e o antropólogo Leonardo Castro, da Ensp-Fiocruz, pesquisador do Centro de Estudos sobre Determinantes Sociais da Saúde da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz e coordenador executivo da iniciativa Saúde Amanhã, preocupados em pensar em como o conceito nascido nas geociências pode colaborar para as análises das questões sociais e econômicas que envolvem os Objetivos de Desenvolvimento Social (ODSs) definidos pela Agenda 2030.
Eli da Veiga fez uma breve introdução sobre como o conceito do antropoceno surgiu nos debates de cientistas sobre o sistema terra, delimitando uma nova época da Terra que encerrou o holoceno, que durou pelo menos 12 mil anos. Inicialmente, o antropoceno teria como marco a Revolução Industrial, momento em que as atividades humanas passaram a colaborar com o efeito estufa, e, posteriormente, com o debate mais ampliado, cientistas de várias áreas chegaram ao consenso de que a nova época se inicia na segunda metade do século XX, com a grande aceleração que gerou impactos sobre o sistema Terra possíveis de serem observados pela ciência. Nesse quadro, segundo ele, pensar o futuro é pensar o antropoceno e em como as atividades humanas podem rumar para modos de vida mais sóbrios. Ele acredita que esse movimento já começou, mas lembrou que há forças contrárias muito poderosas, além de problemas graves, como a fome, que tornam as previsões muito arriscadas.
Para pensar o futuro, o professor sugeriu que, em vez de usar o cenário que os australianos criaram, de antropoceno bom e mau, é preciso levar em conta as quatro tendências que marcam esse debate. “Há aqueles comportamentos que rejeitam a ideia do antropoceno e de que precisaríamos mudar. Tem uma rejeição mais cautelosa e mais difícil de caracterizar. Tem o pessoal que aceita e se divide entre os que aceitam com restrições e os que aceitam de forma entusiástica”, lembrando que há setores da sociedade que professam um otimismo tecnológico total, na certeza de que a tecnologia oferecerá soluções para os problemas contemporâneos. “Tem até gente até que discute a possibilidade de que venhamos a ser imortais”, disse, encerrando sua apresentação com críticas ao G20, ao mesmo tempo que destacou a importância do fórum para a negociação de políticas ambientais. Para assistir ao debate na íntegra, siga o link.