O ano era 1985. Trabalhadores rurais, crianças e turistas — as principais vítimas de acidentes com animais peçonhentos — sofriam com a falta de soro antiofídico (contra o veneno de cobra) nos postos de saúde e hospitais de todo o país. O problema chamou a atenção da imprensa, que relatava casos de pessoas que ficavam sem assistência, sofriam amputações ou até chegavam à morte pela falta do produto nas unidades de saúde. Para suprir a ausência desse insumo, o governo brasileiro iniciou a importação emergencial do soro, mas esbarrou em outro impasse: os antígenos produzidos a partir do veneno de cobras existentes em outros países não se adaptavam bem às espécies brasileiras.A origem deste problema de saúde pública estava no fechamento de uma única empresa, a Syntex do Brasil, responsável por boa parte da produção de soro antiofídico no país e de outros imunobiológicos. Depois que o Ministério da Saúde apontou irregularidades em amostras da vacina DPT (a chamada “tríplice bacteriana”, que previne contra difteria, tétano e coqueluche), fabricadas pela empresa, a multinacional simplesmente fechou as portas e interrompeu a produção de vacinas, soros e outros antígenos — com prejuízo para a saúde da população, que ficou sem acesso a um insumo essencial para salvar as vítimas de picadas de cobras. […]