Elevação do nível dos oceanos coloca em risco 11% da população mundial e 14% do PIB global

O relatório Mares em Ascensão em um Mundo em Aquecimento, Organização Meteorológica Mundial, OMM, foi apresentado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, essa semana no Fórum das Ilhas do Pacífico, em Tonga, no Pacífico, como “um SOS sobre o aumento do nível do mar.” Ele alertou que o aumento sem precedentes do nível do mar está prestes a desencadear uma catástrofe global, ameaçando cidades costeiras ao redor do mundo e colocando bilhões de vidas em risco. Guterres disse que o futuro das próximas gerações está em perigo e que depende de uma ação climática imediata e coordenada para evitar consequências desastrosas, que vão desde a destruição de comunidades inteiras até danos econômicos incalculáveis.

O documento da OMM, entidade ligada à ONU, revelou que, em média, o nível das águas marinhas no globo registrou em 2020 um crescimento de cerca de 10 centímetros em relação à medição de 1990, quando começou a série histórica, alimentada por dados extraídos de imagens de satélite. O fenômeno está relacionado ao aquecimento climático, com a elevação da temperatura dos oceanos e o derretimento das calotas polares, e atinge de forma desigual o planeta, colocando em risco principalmente as zonas costeiras de baixa elevação que, de acordo com o relatório, representam 11% da população do mundo e 14% do PIB global.

Entre as áreas mais atingidas do globo, estão regiões agrícolas nos deltas de grandes rios e comunidades no Ártico e nos trópicos. Países situados nas Ilhas do Pacífico estão ameaçados de submergir em um futuro próximo e megacidades como Londres, Nova York, Tóquio e Rio de Janeiro também correm risco com a elevação do nível dos oceanos. O nível do mar no Rio de Janeiro, por exemplo, segundo o relatório, sofreu um aumento de 13 centímetros entre 1990 e 2010 e ficou três centímetros acima da média global. As projeções indicam que, até 2050, esse número deve chegar a 21 centímetros. 

A gravidade da situação fez com que o Fórum das Ilhas do Pacífico se unisse a outros países insulares do Caribe e da África para negociar em bloco seus interesses nas conferências do clima. Esse bloco teve um papel importante nas negociações para a assinatura do Acordo de Paris em 2015, que comprometeu os signatários a promover ações para limitar em 1,5 graus Celsius o aumento da temperatura média global até 2100, tendo como parâmetro a temperatura registrada no século 19. O cumprimento dessa meta, no entanto, é cada vez mais remoto. Desde a assinatura do documento, as emissões de gases de efeito estufa só fizeram aumentar e projeções apontam que esse teto deverá ser ultrapassado já na próxima década, ou seja, 80 anos antes do prazo acordado em Paris. Diante desse fracasso, não há consenso. Parte da comunidade científica e do movimento climático defende a revisão da meta e outra luta para mantê-la, por acreditar que o protelamento do prazo pode desmobilizar os esforços para reduzir a emissão de gás carbono na atmosfera, necessários ao futuro dos territórios ameaçados pela elevação do nível dos oceanos.  

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