Os representantes dos países integrantes do G20 presentes à 4ª reunião do Grupo de Trabalho de Saúde do G20 realizada esta semana em Natal, no Rio Grande do Norte, reforçaram a urgência de enfrentar as mudanças climáticas e os desafios impostos na atualidade pela saúde coletiva, chegando a um consenso sobre a importância de utilizar a abordagem de One Health (Uma só saúde). A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse que, com a Declaração Ministerial sobre Mudança do Clima e Saúde e One Health, o Brasil busca aprofundar os progressos anteriores na área da saúde e reforçar a integração da saúde nas discussões sobre mudanças do clima, lembrando que Belém, no Pará, será a sede da COP 30 em 2025.
O principal resultado esperado para o GT de Saúde do G20 durante a presidência brasileira é a criação da Aliança Global para a Produção e Inovação Local e Regional, com foco em vacinas, medicamentos e diagnósticos para populações e doenças negligenciadas, para a redução de desigualdades. A proposta é o fortalecimento das plataformas tecnológicas em países em desenvolvimento, que podem ser rapidamente deslocadas para produção de tecnologias necessárias para enfrentar eventuais emergências em saúde. A partir de agora, a presidência brasileira do G20 espera acordar a Declaração de Ministros de Saúde do G20 e avançar nos temas propostos.
“Ao final desse encontro, avançamos no trabalho de preparação do documento. Revisamos todos os temas de discussão. Temos agora um quadro completo da posição dos países que vai nos permitir chegar a um consenso a respeito da Aliança para a Inovação e a Produção Local, bem como a Declaração Ministerial sobre Mudança do Clima e Saúde e Uma Só Saúde. Isso nos deixa otimistas para fechar o acordo da Declaração de Ministros de Saúde do G20”, concluiu o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais (Aisa) do Ministério da Saúde, embaixador Alexandre Ghisleni.
O conceito de Uma só saúde se consolidou na construção da aliança entre as organizações Mundial da Saúde (OMS), Mundial de Saúde Animal (OMSA) e das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). As instituições realizam um movimento global no desenvolvimento de ações para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são um esforço global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente, o clima e garantir que as pessoas possam desfrutar de paz e de prosperidade.
O estudo integrado da saúde humana, animal, vegetal e ambiental defendido pelo conceito de Uma só saúde é importante em função de boa parte da humanidade estar atualmente desconectada com a natureza. Dados da OMSA mostram que aproximadamente 60% das doenças infecciosas humanas têm origem zoonótica, quase 75% das doenças infecciosas emergentes, como covid-19 e mpox, também têm origem animal. De cada cinco novas doenças humanas que aparecem todos os anos, três são de origem animal e 80% dos agentes com potencial de uso como armas biológicas são patógenos zoonóticos. As mudanças do clima transformaram as doenças tropicais em um desafio para todo o mundo e é necessário que os sistemas de saúde estejam preparados para lidar com os eventos climáticos extremos. Essa situação atinge principalmente as populações mais vulneráveis e os países em desenvolvimento, onde é ainda mais necessário o financiamento sustentável de iniciativas de adaptação e mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas.
Diante desses desafios, a presidência brasileira no G20 estabeleceu como tema do GT de Saúde três prioridades para uma aliança global: prevenção, preparação e resposta a pandemias, com foco na produção local e regional de medicamentos, vacinas e insumos estratégicos de saúde; saúde digital, para expansão da telessaúde, integração e análise de dados dos sistemas nacionais de saúde; e equidade em saúde. Esses esforços visam o incremento das pesquisas e da produção em saúde para enfrentar, por meio da abordagem Uma só saúde, especialmente questões que dizem respeito à resistência antimicrobiana.