José Noronha diz que o conceito de saúde única só faz sentido se atrelado a um novo modelo de desenvolvimento

Em entrevista ao site Outra saúde, o sanitarista José Noronha de Carvalho, coordenador adjunto da Iniciativa Saúde Amanhã, ao comentar o lançamento do projeto do Governo Federal Uma Só Saúde, alertou para o risco de a resolução não passar de uma boa intenção se não houver atenção especial ao meio ambiente. “É bom que o Ministério da Saúde e o governo tomem essa atitude. Mas quero enfatizar duas coisas: o conceito tem de incorporar a dimensão social; e a liderança deve vir da política ambiental, pois as mudanças climáticas têm efeitos fundamentais na saúde da população. Permitir maior integração entre o controle de zoonoses e o controle de saúde humana é ótimo, mas a ideia em si já existe. Trata-se, portanto, de ampliar a importância da política ambiental”, ponderou José Noronha. O projeto Uma Só Saúde será gerido pelo Ministério da Saúde e contará com a participação de outros ministérios, em especial os do Meio Ambiente e da Agricultura, para promover ações que incidem sobre a saúde humana, animal e vegetal. A iniciativa dialoga com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável Agenda 2030 da ONU e corrobora com as diretrizes da OMS de criar condições para respostas rápidas a futuras epidemias e de, na medida do possível, evita-las.

O sanitarista defendeu ainda que não se perca de vista a dimensão econômica da questão e que se enfrente o debate sobre o modelo de desenvolvimento, levando em conta seus componentes setoriais e com foco nos desafios ambientais e na redução das desigualdades, para que não se simplifique a ideia de determinação social da saúde.  “Se a Saúde Única ou One Health for de fato uma aproximação de um novo modelo de desenvolvimento, um novo modelo de construção ambiental, se essa ideia ampara uma maior articulação para o controle de vetores e atuação em eventos climáticos extremos, com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura, Anvisa, o varejo de alimentos, é importante. Se for para modelar o incentivo e o papel da Embrapa, da agricultura familiar, combater o consumo de alimentos ultraprocessados, é uma ótima iniciativa. Porém, meu medo é que fique só nas palavras, porque na prática devemos falar do modelo de desenvolvimento econômico, da política ambiental, agrária, da distribuição da renda. E só assim poderemos prevenir novos eventos como o do Rio Grande do Sul” disse José Noronha.

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