O consumo de álcool sempre foi considerado natural na cultura Brasileira. A crítica é de Maria Thereza Aquino, professora de Psiquiatria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “Os dados da Organização Mundial da Saúde são reflexo disso”, completa a docente, referindo-se ao estudo, divulgado nesta segunda-feira, 12, segundo o qual o brasileiro bebe em média 8,7 litros de álcool por ano, enquanto a média mundial é de 6,2 litros.
“A cachaça aparece em músicas de carnaval, e seu consumo é banalizado. Estar bêbado é visto como engraçado, não como sintoma de uma doença”, diz. “Em países como a Itália também se bebe muito, mas é habitual fazer isso durante as refeições, o que ameniza o efeito do álcool. No Brasil a bebida é consumida sem comida.”
Segundo a professora, hoje não há festa de 15 anos em que o filho adolescente não exija dos pais a liberação de bebidas alcoólicas. “Alguns bufês contratam um médico e uma ambulância, porque é muito comum os adolescentes convidados abusarem e entrarem em coma alcoólico”, conta a professora.
“Na última década houve um elemento agravante: o uso de energéticos. Antes, a pessoa bebia e era anestesiada pelo álcool. Agora, com esses energéticos, a pessoa acaba bebendo mais. Na hora fica mais resistente, mas o resultado final, a médio e longo prazo, é mais grave, claro”, alerta Maria Thereza.
Estadão, 12/05/2014