O debate “A análise da Saúde na economia” encerrou no dia 26 de setembro a primeira rodada do seminário “Diálogos Brasil Amanhã”, promovido pela Iniciativa Brasil Saúde Amanhã, vinculada à Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, que tem por missão desenvolver prospectivos sobre o sistema de saúde brasileiro. A mesa foi composta por pesquisadores de diversas instituições que, valendo-se da formatação dos dados da saúde segundo o modelo das contas nacionais, com a discriminação das fontes de financiamento e funções de despesas, trataram da participação do setor na economia e nos gastos das famílias brasileiras.
A sanitarista Maria Angélica Borges Santos, professora e pesquisadora da ENSP/ Fiocruz, falou da importância que o setor da saúde tem na economia brasileira, como gerador de renda. Ela destacou que as duas dimensões da saúde – serviço e fabricação e comércio de serviços médicos e farmacêuticos – somadas representavam, em 2015, 7,4% do PIB brasileiro, superando os números do agronegócio e da construção civil. Esse resultado, segundo ela, mostra que a saúde não pode ser vista apenas como gasto, mas também como oportunidade. Maria Angélica ressaltou ainda que o setor da saúde no Brasil pode aumentar sua importância, citando que, em 2009, os serviços públicos e privados tinham uma participação no PIB de 4,3%, enquanto que na Alemanha e na Irlanda chegavam a 8,1% e 7,5%, respectivamente.
O sanitarista Heitor Werneck, da Agência Nacional de Saúde Suplementar, apresentou uma análise sobre o tamanho do mercado da saúde complementar, segundo usuários dos diversos tipos de produtos disponíveis no mercado, destacando os fatores que estão influenciando ou condicionando a atuação do segmento na economia. O trabalho de Werneck analisou os dados do intervalo de 2014 a hoje. Ele chamou a atenção para o fato de nesse período ter havido, em decorrência da crise econômica, a primeira queda no percentual de cobertura dos planos de saúde, que em 2000, no início da série histórica da ANS, era de 18%. Em 2014, esse número pulou para 25% e, em 2022, caiu para 23%, uma redução inédita dos beneficiários da saúde suplementar. O trabalho considerou também o impacto da pandemia da Covid-19 sobre a posse de planos de saúde no Brasil e os reajustes desses serviços.
O economista Ricardo Moraes (IBGE) analisou dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE (POFs), para compor um perfil de gastos das famílias com saúde. O trabalho cruzou as informações sobre os gastos com medicamentos e serviços de saúde com os perfis socioeconômicos, de gênero e etários disponíveis no banco de dados das POFs, para produzir dados sobre o perfil dos gastos com saúde, como, por exemplo, o peso da despesa com planos de saúde. Esses gastos consomem mais de 40% da renda de mais de 5,6% das pessoas com mais de 60 anos de idade que pagam planos individuais e 4% daqueles beneficiários de planos empresariais. Quando se soma a isto os custos com medicamentos e outros serviços de saúde, 11,8% deste segmento da população consome mais de 40% de sua renda com saúde suplementar.
A mesa foi composta ainda pelo sanitarista e coordenador adjunto da Iniciativa Brasil Amanhã, José Noronha, como moderador, e pelos economistas Fernando Gaiger (IPEA), Luciana Servo (IPEA) e Pedro Marques (USP), como debatedores.
A gravação do debate está disponível no canal Vídeo Saúde – Distribuidora da Fiocruz, no Youtube.
*Foto da home: Agência Brasil