A Fiocruz e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) assinaram, nesta terça-feira (6/10), um acordo de cooperação técnica. O objetivo é fomentar pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias e inovações no uso sustentável da biodiversidade, em especial em plantas medicinais, nas diversas fases da cadeia produtiva. A iniciativa visa também estruturar arranjos produtivos para a promoção da saúde e a geração de emprego e renda das famílias beneficiadas pelo Programa Nacional de Reforma Agrária, de forma a garantir a sustentabilidade ambiental e a implementação do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos.
Na ocasião, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, afirmou que a Fiocruz já tem um histórico consolidado em tratar de temas vinculados à questão da agroecologia. O modo de produção agrário, observou Gadelha, pode ser colocado como fator de estimulo à saúde ou extremamente nocivo, a exemplo do uso de agrotóxicos no país. “Nós, junto com a Abrasco, constituímos um dossiê de agrotóxicos que hoje é uma referência em nível internacional. E nós temos a possibilidade de fazer esse trabalho com o Incra, agregando um saber técnico, agregando a possibilidade de estabelecer as relações entre as determinantes sociais da saúde e o modo de produção agrícola. E também em uma possibilidade de estimular o desenvolvimento de produtos fitoterápicos, que tem um potencial imenso nesse país”, afirmou.
A presidente do Incra, Maria Lúcia de Oliveira Falcón, após destacar a relevância da parceria com a Fiocruz, informou que a meta é inaugurar sete fábricas de produção de fitoterápicos – duas na Amazônia e no Nordeste, e as demais no Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Além da agroindústria, Maria Lúcia planeja formar “um exército mulheres” em assentamentos do Incra, com a visão de agentes comunitárias de saúde e capacitadas para trabalhar com as ‘farmácias vivas’. “Nossos assentamentos hoje estão longe do hospital, longe do primeiro atendimento. Mas se tivermos cinco mulheres em cada assentamento do Incra (são quase 10 mil assentamentos), com diploma de agentes comunitárias da saúde, e uma unidade fitoterápica à disposição, acho poderia mudar muito a realidade de todos nós. Tem uma sabedoria popular, quilombola, indígena, povos tradicionais, enfim, tem esse saber. E a Fiocruz vai nos ajudar a colocar todo esse conhecimento à disposição do povo brasileiro”, destacou Maria Lúcia.
O Ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, após ressaltar a parceria com a Fiocruz, defendeu uma ampla discussão no país sobre a questão do uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas na agricultura e na agropecuária. “Nós queremos produzir alimentos em quantidade e também em qualidade. Daí a importância dessa parceria. Nós queremos produzir alimentos que efetivamente promovam a saúde, a vida das pessoas, a vida das famílias, das comunidades. Nós queremos uma agricultura comprometida com esses valores”, ressaltou. “Queremos fazer no país uma discussão séria, democrática, sem preconceitos, sem sectarismo, mas com muita clareza sobre a questão do uso de agrotóxicos e sementes transgênicas em nossa agricultura, na agropecuária e, por conseguinte, na alimentação do povo brasileiro e de povos de outros países, já que o Brasil é um país exportador de alimentos”.
O acordo firmado entre a Fiocruz e o Incra atende ainda a uma reivindicação da Marcha das Margaridas – que reúne mulheres agricultoras, indígenas, quilombolas e sindicalistas -, já que viabiliza o escoamento das plantas medicinais e fitoterápicos produzidos pelo movimento. Além da promoção de pesquisas na área, serão realizadas, por meio da cooperação, ações como treinamentos, cursos de capacitação, projetos de controle de qualidade e iniciativas voltadas para a redução do uso de agrotóxicos nos assentamentos e entornos.