O INCT Observatório das Metrópoles, a Fiocruz e a Letra Capital Editora anunciam o lançamento do livro “Metrópole e Pandemia: presente e futuro”. O evento ocorrerá no dia 06 de outubro, às 18 horas, no foyer do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Rio de Janeiro.
A obra foi organizada por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, José Carvalho de Noronha, Juciano Martins Rodrigues e Ricardo Antunes Dantas de Oliveira. Elaborado em parceria com a iniciativa Brasil Saúde Amanhã/Fiocruz, o livro traz artigos que investigam como a pandemia se espalhou pelo território e impactou de forma variada os espaços urbanos no Brasil. No dia do lançamento presencial, a obra será vendida na versão impressa. Já a versão digital, em PDF, será disponibilizada gratuitamente no site do Observatório das Metrópoles.
Os textos reunidos no livro apresentam as reflexões de pesquisadoras e pesquisadores dos campos da saúde e do planejamento urbano. “Essa é obra é importante porque, em primeiro lugar, chama a atenção para o fato de que a pandemia e seus impactos precisam ser observados através de olhares abrangentes e interdisciplinares. E, a nosso ver, isso só é possível através das interações teóricas e metodológicas entre as áreas da saúde e do planejamento urbano”, ressaltou um dos organizadores, Juciano Rodrigues. Para ele, a reunião dos textos que compõem a coletânea buscou justamente promover essa interação para compreender a tragédia sanitária instalada no país, a partir da centralidade que as metrópoles ocupam no complexo sistema urbano-brasileiro.
Com 13 capítulos e quase 30 autores e autoras, o livro oferece importantes análises sobre o papel do meio urbano na explicação da difusão e de seus efeitos sobre as metrópoles e suas populações. Além das reflexões conceituais sobre saúde urbana, arquitetura e urbanismo sustentável, riscos globais e crise social e urbana, a obra dialoga com temas como metropolização e sua relação com a difusão da doença, saneamento básico, aspectos da forma urbana, pobreza e desigualdade, oferta de recursos de saúde, transformações digitais e reconfigurações do espaço metropolitano. Segundo os organizadores, um dos objetivos da coletânea é dar conta de uma agenda de reflexão e pesquisa inserida em um campo de aproximação teórica e empírica entre os estudos urbanos e de saúde, entendidos como campos de produção e difusão de conhecimentos essenciais e estratégicos para um projeto que articule a Reforma Sanitária com a Reforma Urbana.
A obra está disponível para download, CLIQUE AQUI.
Confira, abaixo, a síntese dos capítulos presentes no livro:
Capítulo 1 | “Medicina Pau-Brasil: cidades saudáveis, quimera ou possibilidade?”, por José Carvalho de Noronha, Gustavo Souto de Noronha e Leonardo Castro.
No capítulo de abertura, os autores partem de uma perspectiva histórica sobre a relação entre cidades e a disseminação de doenças para ampliar o olhar sobre as epidemias, apontando para a importância do enfrentamento dos efeitos de uma lógica capitalista global perversa, na qual prevalecem os interesses dos donos do poder sobre a maioria da população.
Capítulo 2 | “Metrópoles e a crise urbana na pandemia: tendências e desafios”, por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro e Juciano Martins Rodrigues.
Os autores refletem sobre as “forças sociais de grande escala” que disputam hoje o futuro da metrópole brasileira. A discussão realizada no texto se apoia, sobretudo, nas pesquisas realizadas pelo INCT Observatório das Metrópoles e seus resultados. No contexto dos efeitos societários da pandemia, tratam também de como se especifica a ordem urbana no padrão de desenvolvimento capitalista brasileiro atual. Para além disso, buscam refletir sobre essa ordem no contexto do conflito intrínseco entre a produção e a apropriação do meio urbano construído.
Capítulo 3 | “A cidade e a pandemia: impactos e mudanças que vieram para ficar”, por Nabil Bonduki.
O arquiteto e urbanista Nabil Bonduki reflete inicialmente sobre o impacto da pandemia na crise urbana e em temas importantes para o direito à cidade: saneamento, segurança hídrica, habitação e mobilidade. Para o autor, diante das mudanças ocorridas na moradia, no mundo do trabalho, nas formas de lazer e entretenimento e na mobilidade, torna-se necessária uma reformulação do pensamento urbanístico, ainda fortemente marcado pelo movimento moderno. Os efeitos colaterais das mudanças inéditas desde a consolidação da cidade industrial, podem reforçar um modo de vida privado, o isolamento entre as pessoas e a segregação, além de desestimular a convivência nos espaços públicos, acentuando as desigualdades e a exclusão dos mais vulneráveis.
Capítulo 4 | “COVID-19 – Preparar as cidades para riscos globais”, por João Ferrão, Roberto Falanga e Carlos Liz.
Escrito pelos professores e pesquisadores portugueses João Ferrão, Roberto Falanga e Carlos Liz, o capítulo procura respostas sobre o que aprendemos com a pandemia, que cidade pós-pandêmica queremos e como produzi-la. Com base numa leitura crítica dos quatro grandes tipos de efeitos da pandemia – revelador, acelerador, desformatador e disruptor – na vida das cidades, nos paradigmas de cidade e nas políticas urbanas, os autores defendem que a principal lição a retirar da atual pandemia é a urgência da transição para uma cidade guiada por valores pós-antropocêntricos, mas em que a melhoria permanente e generalizada da condição humana permaneça como um objetivo central.
Capítulo 5 | “A pandemia de Covid-19 no Brasil: um olhar sobre nossa condição metropolitana”, por Juciano Martins Rodrigues e Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro.
Alinhados com a proposta da coletânea, os autores ressaltam o fato de que a pandemia adicionou novos desafios ao entendimento da dinâmica socioespacial, à gestão e ao planejamento das cidades, acrescentando que a forma como a pandemia se espalhou pelo território e a tragédia sanitária instalada desde março de 2020 não podem ser compreendidas sem considerar a complexidade do sistema urbano e o nível de metropolização no Brasil. Com base na observação dos fluxos de hospitalizações por Covid-19, exploraram como traços da estrutura e da dinâmica espacial podem determinar o comportamento da pandemia e seus desfechos no contexto tipicamente metropolitano.
Capítulo 6 | “Sustentabilidade em arquitetura e urbanismo: uma atualização após a Covid-19”, por Lucia Shimbo.
Neste capítulo, a autora procura contribuir para a atualização do debate sobre sustentabilidade em arquitetura e urbanismo. Debate este que se torna mais urgente tendo em vista os efeitos da pandemia da Covid-19 nas dinâmicas econômicas e sociais. Fruto de uma revisão bibliográfica e de pesquisa documental, o capítulo no estilo de ensaio se propõe a cotejar duas tendências importantes nessa discussão: as abordagens sociotécnicas e as da economia política urbana. O argumento desenvolvido pela autora considera que as inovações sociotécnicas que têm como horizonte a sustentabilidade da vida humana na Terra precisam ser consubstanciadas com as análises da teoria do valor, da governança urbana e da contabilidade crítica.
Capítulo 7 | “Saneamento básico no Brasil: cenários para a saúde urbana”, por Alex M. S. Aguiar e Leo Heller.
Apresenta um cenário futuro do acesso ao saneamento básico nas cidades brasileiras, especificamente com um recorte setorial aos serviços de abastecimento de água e ao esgotamento sanitário, cujo acesso foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2010, como direito humano essencial ao usufruto da vida e de todos os demais direitos humanos. Segundo os autores, a importância desse tema se amplificou com a pandemia da Covid-19, quando a higiene frequente das mãos, ao ser estabelecida como uma importante barreira de prevenção do contágio, trouxe à luz a estreita relação entre água e saúde e, mais importante, a constatação de que a segurança sanitária de qualquer indivíduo guarda dependência com a oferta do acesso à água potável a todos.
Capítulo 8 | “Tendências da concentração e da dispersão urbana no pós-pandemia”, por Maria Monica O´Neill e Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira.
Os autores analisam as tendências de crescimento populacional e seus consequentes impactos nas Concentrações Urbanas brasileiras, em particular os que se referem ao saneamento básico. Com o objetivo de construir cenários sobre o comportamento futuro das áreas urbanas no Brasil, os autores procuram identificar espaços que tendem a seguir concentrando população ou, em outro sentido, aqueles que tendem a perder dinamismo demográfico. Uma das principais conclusões do capítulo reforça a tese da não existência de desconcentração populacional nas grandes metrópoles que, por inércia, tendem a continuar concentrando parcela expressiva da população brasileira simultaneamente ao crescimento mais dinâmico das concentrações urbanas localizadas no interior. Os autores alertam, porém, que os impactos da Covid-19 podem alterar o cenário desenhado em um exercício de projeção populacional.
Capítulo 9 | “Pandemia, Pobreza e Desigualdade de Renda nas regiões metropolitanas brasileiras”, por Marcelo Gomes Ribeiro e André Ricardo Salata.
No texto, os autores trabalham com a evolução das taxas de pobreza e desigualdades existentes nas regiões metropolitanas brasileiras vis-à-vis ao observado no Brasil como um todo, e buscam argumentar que somente a política de combate à pobreza, apesar de importante e presente nos momentos mais alarmantes da pandemia de Covid-19, não é suficiente para alterar a estrutura de desigualdade de renda existente. Ao longo do desenvolvimento do capítulo os autores argumentam, ainda, que a existência e persistência da pobreza decorre, principalmente, da estrutura de distribuição de renda existente, que se configura de modo muito desigual devido principalmente à apropriação de renda realizada pelos estratos superiores de renda e o baixo nível de renda de grande parcela da população.
Capítulo 10 | “Covid-19 nas metrópoles: oferta de recursos em saúde e fluxos para internações hospitalares”, por Ricardo Antunes Dantas de Oliveira, Carolina de Campos Carvalho, Francisco Viacava, Mônica Martins, Anselmo Rocha Romão e Caio de Paula Peixoto.
Partindo da constatação de que a distribuição dos recursos hospitalares espelha as históricas desigualdades sociais e econômicas do país, os(as) autores(as) analisam comparativamente os perfis de capacidade instalada de recursos de atenção hospitalar nas principais regiões metropolitanas brasileiras e os fluxos para internações nessas regiões observados durante a pandemia de Covid-19. O capítulo busca identificar os vazios assistenciais das periferias metropolitanas brasileiras e, nessa perspectiva, além de retratar os desafios do contexto pandêmico, o texto contribui para a discussão fundamental acerca da alocação mais eficiente dos recursos em saúde.
Capítulo 11 | “As metrópoles e a Covid-19: presente e futuro”, por Teresa Cristina M. Mendes.
Tem como ponto de partida o cenário da crescente digitalização das sociedades e seu impulso extraordinário resultante da pandemia, considerando, ao mesmo tempo, as preocupações sobre os desdobramentos negativos da forma como as chamadas TICs são incorporadas na gestão das cidades, sobretudo quando guiadas majoritariamente pelos interesses das grandes empresas de tecnologia. Nesse contexto, segundo a perspectiva da autora, as smart cities surgem como espaços retroalimentadores dos investimentos em novas tecnologias digitais, representando possibilidades de experimentações que, quando consolidadas, contribuem para a expansão das fronteiras tecnológicas e, consequentemente, para o domínio de mercados de tecnologia dos detentores dessas inovações.
Capítulo 12 | “Transformações metropolitanas no pós-pandemia”, por Gilberto Corso Pereira e Claudia Monteiro Fernandes.
Neste capítulo, o autor e a autora examinam os impactos da pandemia da Covid-19 no conjunto das metrópoles brasileiras enquanto sistemas complexos, considerando suas diversas dimensões e partindo de situação atual, mas considerando sua herança histórica de desigualdade, precariedade, segregação socioespacial e especificidades regionais. O capítulo defende que a pandemia não tem somente efeitos transitórios, que afetaram e afetam a conjuntura nacional e local e uma vez superada voltaremos “ao normal”, mas tem características estruturais que transformam e reconfiguram o futuro das cidades e regiões no país e devem ser enfrentadas por políticas públicas multidimensionais que considerem as transformações recentes e os cenários futuros.
Capítulo 13 | “Covid-19 e o futuro da metrópole: o que significa a fuga de uma empresa gigante do setor financeiro para o interior?”, por Pedro Paulo Machado Bastos.
Encerrando a coletânea, o autor aborda a migração de uma corretora financeira da capital para o interior como um estudo de caso que amplia o repertório de problemáticas e indagações quanto ao futuro das metrópoles no contexto das transformações metropolitanas decorrentes da pandemia. Com esse caso em perspectiva, o autor apresenta um ensaio teórico sobre um possível cenário de inversão do processo de urbanização campo-cidade para um processo regressista de cidade-campo. Além de situar como o tema pode ser compreendido dentro do campo dos estudos urbanos e regionais, o texto descreve o estudo de caso em si, destacando os principais aspectos do complexo de escritórios da empresa e do local onde pretende se instalar e discute a relação contraditória entre a localização do empreendimento, os princípios de sustentabilidade e alguns fatores locacionais amplamente procurados por empresas que buscam encontrar capital humano.
O livro está disponível para download, CLIQUE AQUI.
Por Observatório das Metrópoles