Em setembro de 2015, aproximadamente 200 nações adotaram os 17 objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODSs) como uma estrutura universal, transformadora para tratar três dimensões interligadas do desenvolvimento de nossa existência global – pessoas, planeta e prosperidade [i]. Elas afirmam-se na noção de que sustentabilidade não é só uma aspiração, mas uma necessidade. Entretanto, com a sustentabilidade ampliando o escopo e objetivos de seus predecessores (os objetivos de desenvolvimento do milênio), os ODSs estabeleceram uma teia maior. Para atingi-los, necessitaremos ações coletivas para criar novos conhecimentos, compartilhar saberes, e implementar ideias através do trabalho com outros setores e diversas partes interessadas em políticas de saúde global. Com isso em mente, 60 think tanks de saúde global encontraram-se em Genebra em novembro de 2015 para explorar o papel destes e de instituições acadêmicas na implementação dos ODSs.
O que será preciso para atingir os ODSs relativos à Saúde?
Apesar de somente o ODS 3 focar primariamente em saúde, muitos outros objetivos do desenvolvimento, incluindo aqueles destinados a ambiente, nutrição, fome, produção e consumo sustentáveis, agricultura e educação, têm também grandes efeitos na saúde. Portanto, para alcançar o progresso na saúde humana os países terão que se comprometer com uma agenda ampla do desenvolvimento sustentável e explorar os elos entre os diferentes objetivos e metas. Isso fornece uma oportunidade para se explorarem abordagens sistêmicas: aplicando uma perspectiva ecológica e implementando uma agenda ambiciosa na qual a saúde é incluída em todas as políticas governamentais.
O desafio mais óbvio é assegurar a vontade política para identificar e se comprometer com os recursos financeiros adequados [ii] [iii] [iv]. Mas para garantir que esses compromissos levem à melhoria da saúde, três questões importantes deverão ser endereçadas: compartilhamento global de conhecimento, construção de capacidades e inovação. Agências da sociedade civil como os think tanks e instituições acadêmicas podem ser catalizadores críticos para acelerar a agenda dos ODSs junto a todos os níveis de governança.
Compartilhamento de conhecimento – Novos conhecimentos sobre determinantes da saúde, resposta a doenças, mitigação de problemas ambientais e implementação de programas e políticas de sucesso são gerados rapidamente. Entretanto, o conhecimento frequentemente se difunde muito lentamente. Por exemplo, mesmo terapias financeiramente accessíveis com potencial de salvar vidas podem demorar até uma década para serem amplamente adotadas [v]. Assegurar que o conhecimento seja tratado como bem público global e disseminado rapidamente, efetivamente e amplamente deve ser uma prioridade.
Construção de capacidades – Ainda que haja maior intercambio de conhecimentos, substanciais desafios à implementação dos ODS permanecem [vi]. Muitos países carecem de capacidade técnica para implementar programas apesar de saberem o que fazer. Os governos deverão engajar-se em parcerias com atores-chave para desenvolverem e implementarem políticas, e levarem o progresso ao longo do caminho [vii]. Dados confiáveis serão indispensáveis para assegurar responsabilidade.
Inovação – Mesmo com conhecimento e capacidade técnica, muitos países encontrarão dificuldades para alcançar os objetivos sem inovação e adaptação às suas realidades específicas. Os desafios incluem pensar como a cobertura universal em saúde pode acontecer em lugares com recursos limitados; explorar melhores formas de criar políticas intersetoriais para enfrentar as causas de doenças não transmissíveis; e atrelar o poder da tecnologia para melhorar a prestação de contas à sociedade. Não há limites ao número de inovações que podem ajudar as nações a acelerar a implementação dos ODSs.
Partes interessadas na Saúde Global e o papel dos think tanks e instituições acadêmicas
O encontro em Genebra concluiu que os think tanks e instituições acadêmicas da saúde global têm papel central em responder a algumas necessidades apontadas acima, especialmente em assegurar o efetivo compartilhamento de conhecimentos, assistência técnica para enfrentar desafios de implementação e a criação de estratégias inovadoras para se atingir melhor saúde.
Think tanks e instituições acadêmicas tem domínio próprio de expertise: o conhecimento. Eles ajudam a gerar, traduzir e disseminar conhecimento. Assim, têm a responsabilidade de ajudar a acelerar o processo dos ODSs a partir do foco em algumas dimensões: engajando-se no desenvolvimento de políticas mais amplas, medindo os resultados de políticas e identificando determinantes de sucesso, agindo como intermediários do conhecimento e dando voz à sociedade civil. Seu trabalho pode fornecer insumos indiretos a processos de alto nível, apoiar uma implementação mais efetiva dos objetivos e metas e contribuir para assegurar a prestação de contas, política necessária para se atingir os ODSs.
Finalmente, essas instituições podem catalisar a inovação em sistemas de atenção à saúde nacionais e globais. Alguns think tanks e instituições acadêmicas terão papel central na criação de inovações, enquanto outros focarão em medição, avaliação e disseminação. Novas ideias e soluções para problemas duradouros podem levar anos para serem filtrados pelas pessoas e pela sociedade, e os mais pobres e menos emancipados frequentemente são os últimos a serem beneficiados. Think tanks e instituições acadêmicas relevantes podem ajudar a diminuir esse gap e assegurar que inovações cheguem àqueles que necessitam delas mais rapidamente.
Os ODSs têm o potencial de mudar o jogo na saúde global – uma plataforma e um mecanismo para aprimorar em grande medida a saúde e o bem estar da população mundial. Mas se os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ou outros objetivos globais representam indicadores, o progresso inicial será lento. O custo desta lentidão poderá ser medido em vidas perdidas. Atingir os ODSs não será fácil. Think tanks e instituições acadêmicas podem direcionar a ação, começando por enfrentar a divisória Norte-Sul, que frequentemente impregna essas discussões, ao viabilizarem mais parcerias Sul-Sul e por se encontrarem além desses muros para tocarem a agenda adiante. Eles podem assegurar que as melhores ideias sejam amplamente disseminadas, não importando onde forem originadas. E por manterem entidades governamentais e multilaterais responsáveis, podem contribuir com a voz da sociedade civil.
O Graduate Institute, o International Development Reserarch Center, e o BMJ, em colaboração com outras instituições comprometidas com avanços na saúde pública global, estão lançando uma nova iniciativa par acelerar o alcance dos ODSs. Entre outras iniciativas, publicaremos uma série de artigos com esse tema e aceitaremos pesquisas e análises relevantes e originais para consideração. Estamos num momento crítico e emocionante da saúde global. Tendências ampliadas na globalização criaram tensões e desafios.
Os ODSs representam uma plataforma chave para capturar a energia e boa vontade que podem levar a uma mudança real. Acreditamos que os think tanks e instituições acadêmicas engajados com políticas de saúde global, ao servirem como agentes honestos do conhecimento e como vozes da sociedade, podem direcionar ações de modo a assegurar que coletivamente usemos este momento para melhorar a saúde da população do mundo (Tradução: Erica Kastrup, CEE-Fiocruz).
DSS, 02/06/2016