Como forma de ampliar o leque de alternativas oferecidas no país por meio da chamada “prevenção combinada”, o Brasil vai liderar dois estudos inéditos de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) em 2016. A ideia é avaliar o uso de um medicamento preventivo contra o HIV por adolescentes em três países e adultos da América Latina em dois estudos de larga escala.
O estudo em adultos envolve o Brasil, a Argentina e o Peru e terá duração de três anos e meio; e o segundo, voltado a jovens sexualmente ativos de entre 16 e 19 anos de idade, será realizado no Brasil, nas cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Salvador, e também na África do Sul e na Tailândia, ao longo de cinco anos.
Hoje, no Brasil, os jovens entre 15 e 24 anos – especialmente os homens que fazem sexo com homens (HSH) – estão entre os mais vulneráveis à infecção pelo vírus. É a primeira vez que o país realiza pesquisas com essa faixa etária. Até então, os estudos eram conduzidos apenas em adultos que também integram populações de risco ampliado para o vírus, como HSH e pessoas transexuais.
Os estudos serão conduzidos por meio de uma parceria do Brasil com a Unitaid, organização que financia projetos inovadores de enfrentamento ao HIV e outras doenças. Esta será a primeira ação da Unitaid no Brasil.
A Unitaid atua na resposta global ao HIV/aids, tuberculose e malária, encontrando novas maneiras de prevenir, diagnosticar e tratar esses três agravos de forma mais rápida, mais barata e mais eficiente para aqueles que precisam. A organização, sediada em Genebra, foi fundada em 2006 pela França, Brasil, Chile, Noruega e Reino Unido e hoje possui mais de 50 membros ativos. Por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a Aids, o diretor-executivo da instituição, Lelio Marmora, e o diretor de relações internacionais, Maurício Cysne, estiveram no Brasil debatendo últimos detalhes dos estudos.
As pesquisas terão apoio técnico do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde e apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e de universidades no Brasil e no exterior. Especificamente, o estudo com adultos envolverá a Fiotec/Fiocruz, o Unaids e centros de pesquisa na Argentina e Peru. Já o estudo com adolescentes brasileiros será administrado pelo Unicef e realizado pelas universidades de São Paulo (USP), da Bahia (UFBA) e de Minas Gerais (UFMG) – devendo envolver, ao todo, 1.800 pessoas. Prevê-se que ambos sejam iniciados no segundo semestre de 2016.
O diretor do DDAHV, Fábio Mesquita, ressalta a importância desses estudos para a população jovem e adulta mais vulnerável ao HIV no Brasil: “Por muitos anos, estivemos concentrados em uma abordagem de prevenção que se baseia no uso do preservativo. Hoje, o leque de opções pode e deve ser muito maior, e é preciso testar a aceitação da PrEP como uma das alternativas desse leque, já que sua eficácia é incontestável”, reiterou.
Profilaxia pré-exposição
A PrEP reúne dois medicamentos antirretrovirais – o tenofovir e a emtricitabina – em uma única pílula. A ideia é que pessoas com maior risco de contrair o vírus HIV tomem um comprimido de PrEP antes da relação sexual ou de forma rotineira, diariamente, para se prevenir contra a infecção por HIV.
Segundo o novo protocolo de tratamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), a PrEP deve ser considerada pelos países, em suas políticas públicas, como alternativa de prevenção voltada a populações com “risco substancial de infecção pelo HIV”. Cada país, de acordo com a forma como a epidemia se manifesta na população, define quais grupos estão em situação de “risco substancial”. O Brasil chama esses segmentos de populações-chave. No país, essas populações são: homens que fazem sexo com homens, pessoas trans (transexuais e travestis), gays, profissionais do sexo e pessoas que usam drogas.
Hoje, a combinação de medicamentos utilizada na PrEP pode custar até US$ 2.500 por usuário, ao ano, nos EUA. No Brasil, se aplicado em larga escala, a Unitaid estima que o medicamento poderá custar US$ 100 por usuário, anualmente. No mundo, os preços do medicamento variam de US$ 72 a US$ 10.000 por paciente, ao ano.
No momento, o Brasil possui quatro estudos de PrEP sendo desenvolvidos na Fiocruz, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), na UFMG e na UFBA. Além disso, o DDAHV criou um grupo de trabalho para discutir um protocolo clínico de PrEP e sua eventual implementação a partir de 2016.
Prevenção combinada
De forma pioneira, o Brasil tem empregado diversas novas estratégias de prevenção no enfrentamento à epidemia de HIV – sempre oferecidas como alternativa ou complemento ao uso do preservativo. O leque de opções da prevenção combinada hoje inclui, além da camisinha masculina e feminina, o tratamento como prevenção, a testagem regular e no pré-natal do HIV, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), o tratamento de outras ISTs e ações de redução de danos.
Portal Bio-Manguinhos, 17/12/2015