O número de países que dependem da exportação de matérias-primas atingiu seu nível mais alto em 20 anos, segundo novo relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicado nesta quarta-feira (15).
A UNCTAD define um país como dependente de commodities quando estas representam mais de 60% de suas exportações totais de mercadorias em termos de valor.
O Relatório sobre Dependência de Commodities de 2019 mostrou que os países dependentes de commodities aumentaram de 92 entre 1998 e 2002 para 102 entre 2013 e 2017.
Mais da metade dos países do mundo (102 de 189) e dois terços dos países em desenvolvimento são dependentes de commodities, indicou o relatório.
“Dado que a dependência de commodities muitas vezes afeta negativamente o desenvolvimento econômico de um país, é importante e urgente reduzi-la para progredir mais rapidamente em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”, disse o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi.
Países em desenvolvimento mais afetados
A dependência de commodities afeta quase exclusivamente os países em desenvolvimento, segundo o relatório. Atinge 85% dos países menos desenvolvidos, 81% dos países em desenvolvimento sem saída para o mar e 57% dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento.
Com 89% dos países dependentes de commodities, a África Subsaariana é a região mais afetada. É seguida por Oriente Médio e Norte da África, onde 65% dos países dependem de matérias-primas.
Metade dos países da América Latina e do Caribe, e metade dos países da Ásia Oriental e do Pacífico também dependem de commodities.
Problema persistente
A dependência de commodities também é persistente, de acordo com o relatório. Os grupos dominantes de produtos exportados tiveram mudanças em apenas 25% dos países entre 2013 e 2017, em parte devido a alterações nos preços das matérias-primas.
O número de países dependentes da exportação de produtos agrícolas diminuiu de 50 para 37 entre os períodos de 1998-2002 e 2013-2017.
O número de países dependentes dos minérios aumentou de 14 para 33, enquanto o número de países dependentes de hidrocarbonetos aumentou de 28 para 32.
Flutuações relativas de preços entre os diferentes grupos de commodities contribuíram para as mudanças nos grupos de produtos dominantes exportados, já que os preços de energia e minerais aumentaram muito mais do que os de produtos agrícolas e manufaturados.
Vulnerabilidade a choques de preços e volatilidade
Os países em desenvolvimento dependentes de matérias-primas são vulneráveis a choques negativos e volatilidade de preços de commodities.
Os níveis médios de preços de commodities entre 2013 e 2017 ficaram substancialmente abaixo do pico entre 2008 e 2012, revelou o relatório.
Isso contribuiu para uma desaceleração econômica em 64 países dependentes de commodities, com vários deles entrando em recessão.
À medida que o crescimento desacelerou, a situação fiscal em muitos desses países se deteriorou, resultando na acumulação de dívida pública, muitas vezes como um aumento da dívida externa.
A dívida externa de 17 países em desenvolvimento dependentes de commodities aumentou em mais de 25% do PIB entre 2008 e 2017, de acordo com o relatório.
Esforços de diversificação
O relatório observou que alguns países conseguiram diversificar sua produção e exportações nas últimas duas décadas.
Por exemplo, alguns países dependentes de exportações de hidrocarbonetos, como Omã, Arábia Saudita e Trinidad e Tobago, aumentaram a participação em suas exportações de produtos do setor de downstream — atividades de transporte e distribuição de produtos da indústria do petróleo, por exemplo. Outros países dependentes de energia ou dependentes de exportações minerais, como Ruanda e Camarões, conseguiram expandir suas exportações agrícolas.
O relatório de 2019, a quarta edição da série lançada em 2012, contém 189 perfis estatísticos de países desenvolvidos e economias em transição.
Clique aqui para acessar o relatório (em inglês).
Fonte: ONU Brasil