A nutrição global é marcada atualmente por extremos, afirmou a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, na abertura do evento Nutrição para o Crescimento (Nutrition For Growth), no Rio de Janeiro. “O mundo tem 800 milhões de pessoas com fome crônica, mas também tem países onde mais de 70% da população adulta está obesa ou com sobrepeso”. A cerimônia foi organizada pelo governo do Brasil, em parceria com o Reino Unido e o Japão.
Chan também citou que a esse cenário se soma outro grande problema: o desperdício em países ricos. “Há alimentos comestíveis sendo jogados fora em casas e restaurantes e/ou rejeitados pelos supermercados, muitas vezes por razões cosméticas. Os tomates não são vermelhos o suficiente. Os pepinos e cenouras são curvas”, disse. De acordo com ela, essa situação também ocorre no mundo em desenvolvimento, mas com um padrão diferente. “Na maioria desses países, quase metade da produção é perdida durante a colheita, armazenamento e transporte ou por conta de estradas em más condições, falta de refrigeração”, enumerou, ressaltando que essas situações precisam ser enfrentadas. A diretora-geral da OMS chamou a atenção ainda para a importância da Década de Ação das Nações Unidas sobre Nutrição, proclamada neste ano para desencadear uma ação intensificada que busca acabar com a fome e erradicar a desnutrição em todo o mundo, além de assegurar o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis.
O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano, destacou que, para a população se alimentar melhor, são necessárias medidas educativas, principalmente para as
crianças. Ele também ressaltou a importância de ações para informar adequadamente a população. “É necessário ter políticas para retirar o açúcar e o sal dos alimentos processados. Mas também são importantes ações que nos permitam saber quanto de açúcar tem no refrigerante, quanto de sal tem na pizza congelada. Precisa pôr na frente, na capa. Da mesma forma como colocamos nos venenos aquela caveirinha”, defendeu.
O ministro da Saúde do Brasil, Ricardo Barros, disse ter estipulado recentemente que, de agora em diante, só podem ser servidos alimentos saudáveis no Ministério, tanto para eventos quanto para os restaurantes internos. “Também conseguimos um acordo com a indústria que nos permitiu retirar 14 mil toneladas de sódio dos alimentos processados”, afirmou. Ele destacou ainda o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz informações sobre como se alimentar de forma saudável. O material, feito pelo Ministério da Saúde com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), também foi elogiado pela chef Rita Lobo. “Nosso guia valoriza os hábitos culinários regionais e vem recebendo elogios no mundo todo”.
O ex-corredor e medalhista olímpico brasileiro Robson Caetano ressaltou que todos podem ser atletas talentosos, mas é preciso garantir-lhes desde cedo o acesso aos alimentos. “Precisamos dar oportunidade para os jovens se desenvolverem de forma plena. E isso envolve a alimentação adequada”.
Outros países e instituições nacionais e internacionais também apresentaram experiências exitosas em nutrição durante o evento. Um dos painéis foi moderado pelo Representante da OPAS/OMS no Brasil, Joaquín Molina. “A nova epidemia de obesidade e sobrepeso atinge não apenas os países ricos, mas os de renda média e em desenvolvimento também”, disse.
OPAS, 04/08/2016