Qual o papel do Estado brasileiro? Que desenvolvimentismo almejamos? Qual desenvolvimento é possível? As questões estiveram em debate na última segunda-feira, 11 de julho, durante o seminário “Qual desenvolvimento?”, realizado no Colégio Brasileiro de Altos Estudos, no Rio de Janeiro, e promovido pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento. Três mesas promoveram reflexões sobre Novo Desenvolvimentismo e Social Desenvolvimentismo; históricos e desafios do projeto desenvolvimentista no Brasil; e o dilema crescimento versus estabilidade do programa econômico e social desenvolvimentista. Com a moderação de Roberto Saturnino Braga, Samuel Pinheiro Guimarães e Rosa Freire d’Aguiar, os debates abordaram a trajetória de desenvolvimento da nação brasileira e traçaram perspectivas para a agenda do país no horizonte dos próximos 20 anos.
O economista e cientista político Luiz Carlos Bresser-Pereira, ministro da Fazenda em 1987, apresentou uma síntese dos diferentes modelos de desenvolvimento e suas implicações para o Brasil. “O que chamamos de Novo Desenvolvimentismo é, ao mesmo tempo, uma forma de organização econômica e política do capitalismo alternativa ao liberalismo econômico; uma ideologia associada ao nacionalismo econômico, também alternativa ao liberalismo econômico; e, ainda, uma teoria econômica. Eu estou aqui para convidá-los a embarcar nesta proposta”, anunciou Bresser-Pereira.
De acordo com o cientista político, o Novo Desenvolvimentismo parte de experiências bem sucedidas de crescimento acelerado, especialmente as do Leste Asiático, para explicar como nações que realizaram sua revolução industrial e capitalista tardiamente aumentaram o bem-estar material de sua população. “É hora de verificar o quanto o Novo Desenvolvimentismo é crítico ao seu antecessor direto, o Desenvolvimentismo Clássico. Ambos são teorias econômicas e políticas que visam explicar o progresso ou o desenvolvimento humano”, sintetizou.
“Em função da hegemonia do neoliberalismo econômico, por muitas décadas não discutimos outras possibilidades de políticas de desenvolvimento. A proposta de se pensar outros modelos, trazida por Bressser-Pereira, é fundamental para avaliarmos um modelo de desenvolvimento que alie crescimento econômico e inclusão social”, complementou Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).
Dilemas do desenvolvimento brasileiro
O pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), André Martins Biancarelli, fomentou o debate sobre os grandes dilemas do desenvolvimento brasileiro. “É preciso aprofundar e renovar o componente social do desenvolvimento brasileiro, sobretudo no contexto em que se discute a imposição de teto financeiro para gastos públicos no período dos próximos 20 anos”, alertou. Segundo o diretor associado do Instituto de Economia da Unicamp, para que o país avance na superação das demandas sociais são indispensáveis uma reforma tributária que vise à distribuição de riquezas e uma política industrial radical, que torne o Estado brasileiro mais forte.
O economista Luiz Fernando Rodrigues de Paula, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), ressaltou a necessidade de uma avaliação aprofundada da experiência desenvolvimentista recente no Brasil, com ênfase nos efeitos da globalização financeira. “A política econômica de um país deve ser um mecanismo indutor do desenvolvimento social. No entanto, percebemos que a liberalizac?a?o financeira trouxe poucas histo?rias de sucesso sobre crescimento da renda, estabilidade macroecono?mica e inclusa?o social. No Brasil, que aprofundou o processo de liberalização, precisamos, agora, combinar políticas de estabilização de curto prazo com reformas estruturais amplas, que promovam em longo prazo a transformação social”, apontou.
A todas as reflexões, o economista José Celso Cardoso Jr., do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acrescentou suas preocupações com o futuro do país. “O desenvolvimento deve ser um processo civilizatório, que promova melhores condições de vida para a população. A nossa Constituição Federal, que mais uma vez está em risco, é a propulsora dos direitos sociais e da distribuição de renda no Brasil e precisa ser respeitada. É preciso resgatar a perspectiva do desenvolvimento soberano, social, inclusivo, sustentável e democrático, como parte da estratégia de crescimento do país”, concluiu.
Equipe Brasil Saude Amanha, Bel Levy, 15072016