Cidades africanas devem concentrar 1 bilhão de pessoas até 2040

Até 2025, 178 milhões de africanos passarão a morar em cidades. O aumento da população urbana — atualmente estimada em 478 milhões — virá acompanhado de uma expansão da extensão de terras ocupadas por municípios e metrópoles. A área total que será acrescida à malha urbana do continente equivale ao território da Nigéria.

Os dados são de um novo relatório do Banco Mundial, divulgado no início de fevereiro (9). No documento, o organismo financeiro defende que, para melhorar as condições de vida da população e o ambiente negócios das cidades africanas, são necessários mais investimentos em infraestrutura e reformas no mercado de propriedades e terras.

A análise do Banco Mundial observa que a urbanização na África aconteceu — e continua acontecendo — com um aumento na renda bem inferior ao de outras regiões do mundo, que também são consideradas “em desenvolvimento” e têm níveis de adensamento urbano idênticos.

Em 1968, por exemplo, quando os países do Oriente Médio e do norte da África se tornaram 40% urbanos, o seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita era em média de 1,8 mil dólares (valores de 2005). Em 1994, quando nações da Ásia Oriental e Pacífico ultrapassaram o mesmo patamar, o PIB per capita era de 3,6 mil dólares. Já na África, onde a urbanização também chegou a 40%, a divisão dos recursos totais por pessoa é estimada atualmente em apenas mil dólares.

Para a agência da ONU, o cenário exige investimentos públicos mais eficientes e a busca por outras fontes de financiamento, como o setor privado, parceiros internacionais e os próprios cidadãos.

O Banco Mundial aponta que a urbanização acelerada, mas com níveis de renda mais baixos, foi uma das causas do reduzido investimento de capital das cidades africanas, que atingiu taxas relativamente modestas nas últimas quatro décadas — cerca de 20% do PIB.

Segundo o organismo financeiro, a injeção de recursos em infraestrutura, estruturas comerciais e industriais, bem como em habitação formal, não foi suficiente para acompanhar o ritmo de concentração da população.

Agora, o continente está diante de uma nova onda de urbanização. Até 2040, haverá 1 bilhão de habitantes vivendo nas cidades da África.

“O que as cidades fizerem agora vai determinar o seu modelo e eficiência não só nos próximos anos, como também durante décadas ou até mesmo séculos”, ressaltou o diretor sênior do Banco Mundial e responsável por assuntos sociais, urbanos, rurais e de práticas globais de resiliência, Ede Ijjasz-Vasquez.

Fragmentação urbana

Um desafio apontado pelo Banco Mundial é a fragmentação das cidades africanas, que estão entre as mais caras para os negócios e também para habitação. Em média, custos de vida e produção são 29% mais altos nos centros urbanos da África do que em municípios de outros continentes e regiões com faixa de renda idêntica. Quando considerada apenas a moradia, o acréscimo em comparação a outros lugares do mundo é de 55%.

Em Dar-es-Salam, na Tanzânia, por exemplo, pelo menos 28% dos habitantes dividem um quarto com outras duas pessoas. Em Abidjan, na Costa do Marfim, a proporção chega a 50%. Em Lagos, na Nigéria, dois terços dos indivíduos vivem em favelas.

Outra estimativa calculada pelo Banco Mundial é de que, nas cidades africanas, os moradores chegam a pagar 35% a mais pela comida do que nos outros países de baixa ou média renda. Globalmente, famílias de zonas urbanas pagam de 20% a 31% a mais por bens e serviços na África do que em outras nações em desenvolvimento com o mesmo nível de rendimentos.

Criança na favela de Kibera, em Nairóbi. Foto: Flickr (CC)/Trócaire/Eoghan Rice

Criança na favela de Kibera, em Nairóbi. Foto: Flickr (CC)/Trócaire/Eoghan Rice

Segundo o organismo financeiro, os altos custos dos transportes em metrópoles africanas limitam a mobilidade dos habitantes e sua capacidade de arranjar emprego — que fica restrita pela necessidade de escolher postos de trabalho que sejam próximos a onde se mora.

Isso provoca tanto a expansão dos bairros e favelas informais, que estão perto das zonas centrais, quanto o encarecimento da mão de obra em alguns casos — o que afasta investidores.

O Banco Mundial recomenda que a prioridade para o desenvolvimento dos centros urbanos africanos seja a formalização do mercado de propriedades, bem como a definição clara de direitos da população sobre moradia. A segunda prioridade é investir com antecedência em infraestrutura e planejamento para criar conexões entre os setores de habitação, comércio e indústria.

 

Fonte: ONU