GOIÂNIA- Na tarde de quinta-feira o Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) promoveu na faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, durante o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva de 2015, o debate Governança Global: crises e impactos na saúde.
Na mesa, mediada por Álvaro Matida, da área de Cooperação Internacional do Cris/Fiocruz, estavam Paulo Buss, coordenador do Cris e Deisy Ventura, docente e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). Matida abriu os debates ressaltando o papel do Cris como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) e enfatizou a representatividade do Brasil nos diálogos sobre questões relacionadas à saúde na arena internacional.
Paulo Buss iniciou sua apresentação destacando a influência do capitalismo em questões que atingem o bem-estar social e colocando na pauta discussões sobre cooperação internacional. “O que está acontecendo com a Grécia é o exemplo mais brutal e contemporâneo que temos”, disse ele. “Acho que o que vem ocorrendo é que a crise do capital financeiro descontrolado gerou uma crise nos estados nacionais”. Ele também abordou a questão da justiça social como algo intrínseco ao modelo de atuação das nações no que diz respeito ao custo das crises para os mais pobres. “É preciso ter justiça fiscal, quem ganha mais deve contribuir mais para a proteção social”.
O coordenador do Cris reiterou a influência negativa de crises financeiras nos países mais pobres. “A austeridade mata. A crise traz consequências graves para países de baixa renda. Traz profundas consequências para a saúde e os sistemas de saúde”.
Buss exemplificou com dados comparativos que esperança de vida ao nascer chega a ser de 17 anos a menos em países mais pobres em relação aos mais ricos e destacou ainda os desafios da cooperação global, elencando-os como: pobreza e exclusão social, crescente urbanização, processos de migração, situação dos migrantes (diferem-se o processo migratórios e os indivíduos), envelhecimento da população, situação de saúde em países de baixa e média renda, além das marcadas iniquidades entre as nações e no interior das mesmas. “Temos sistemas de saúde com baixa capacidade de formulação e implementação de políticas sociais e de saúde. Sistemas de saúde mal preparados, fragmentados para enfrentar a carga tripla de problemas de saúde”.
Buss destacou também a necessidade de uma forte inserção dos DSS no plano geral de trabalho da OMS. “É na política que as coisas vão se resolver, não na técnica. As soluções se dão através da política”, frisou.
O relatório da Comissão The Lancet – Universidade de Oslo sobre Governança Global para a Saúde também esteve no centro do debate. Além disso os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram citados por Buss. “ Sobre os ODS, todos têm impacto na saúde. Podemos dizer que são uma reunião de Determinantes Sociais e Econômicos ou Ambientais da Saúde”, concluiu.
Deisy Ventura, da Universidade de São Paulo, apresentou uma pesquisa documental qualitativa sobre o impacto na opinião pública gerado pela “crise” do ebola no ano passado. Ela lembrou a importância de priorizar os direitos humanos ao se tratar de questões sanitárias e falou sobre a importância do respeito e preservação dos pacientes. “A situação do ebola foi um laboratório extraordinário no que se refere ao apontamento de problemas relativos à saúde global. Hoje, por conta desta situação, a segurança é um tema central ao falarmos de saúde global”, pontuou.
Segundo a pesquisadora, no entanto, é crucial fortalecer os sistemas de saúde no âmbito global. “Os DSS nesta crise aparecem como elemento crucial quando a literatura aponta a vigilância como solução para a saúde global. São os sistemas nacionais de saúde fortes e não os sistemas de vigilância que, de fato, resolvem”, observou ela.
Portal DSS, 31/07/2015