Em um evento em Nairóbi, à véspera do Dia Mundial da Malária, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou os países a acelerar a ampliação de esforços para prevenir a doença e salvar vidas. Na África Subsaariana, que responde por 90% da carga global de malária, mais de 663 milhões de casos foram evitados desde 2001.
As telas tratadas com inseticidas têm tido maior impacto, representando 69% dos casos evitados por meio de ferramentas de controle.
Juntamente com o diagnóstico e o tratamento, a OMS recomenda um pacote de abordagens de prevenção comprovadas, incluindo mosquiteiros tratados com inseticida, pulverização de paredes internas com inseticidas e medicamentos preventivos para os grupos mais vulneráveis: mulheres grávidas, menores de cinco anos e lactentes.
“As ferramentas recomendadas pela OMS fizeram uma diferença mensurável na luta global contra a malária”, disse Margaret Chan, diretora-geral da OMS. “Mas precisamos de um impulso muito maior para a prevenção – especialmente na África, que carrega a maior carga da malária.”
Relatório da OMS: “A prevenção da malária funciona: vamos preencher essa lacuna”
O último relatório da OMS destaca lacunas críticas na cobertura de prevenção, particularmente na África Subsaariana. Estima-se que 43% das pessoas em risco de contrair malária nessa região não estavam protegidas em 2015 por mosquiteiros ou pulverização de inseticidas em ambientes interiores. Aproximadamente 69% das mulheres grávidas em 20 países africanos não tiveram acesso às três ou mais doses recomendadas de tratamento profilático.
Alguns países têm incorporado às suas políticas essas medidas preventivas, mas sua adoção concreta tem sido lenta. Os tratamentos profiláticos para recém-nascidos, por exemplo – que são seguros, eficazes e bem aceitos pela população e profissionais da saúde – estão sendo implementados atualmente apenas em Serra Leoa.
Em Sahel, onde ocorrem a maioria dos casos de malária e mortes pela doença entre crianças, no período chuvoso, a OMS recomenda a quimioprevenção sazonal da malária (SMC, sigla em inglês), uma terapia preventiva que tem demonstradamente reduzido em 75% os novos casos de malária grave em crianças pequenas. Em 2015, 10 países (Burkina Faso, Chade, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Nigéria, Senegal e Togo) haviam adotado e implementado a política da SMC.
Progresso global e carga da doença
De acordo com o Relatório Mundial da Malária de 2016, a taxa de novos casos caiu em 21% globalmente entre 2010 e 2015. As taxas de mortalidade pela doença caíram 29% no mesmo período. Na África Subsariana, as taxas de incidências de casos e mortes diminuiu em 21% e 31%, respectivamente.
Outras regiões mostraram progressos consideráveis na luta contra a malária, mas a doença continua a ser uma grande ameaça à saúde pública. Em 2015, houve 429 mil mortes por malária e 212 milhões novos casos. A cada dois minutos, uma criança morreu pela doença.
“Qualquer morte por malária – uma doença evitável e tratável – é simplesmente inaceitável”, disse Pedro Alonso, diretor do Programa Global contra a Malária da OMS. “Hoje estamos instando os países e parceiros para acelerar o ritmo de ação, especialmente nos países de baixa renda com uma elevada carga de malária.”
Noventa e um países relataram transmissão da malária em curso em 2015; todos estão trabalhando para reduzir a carga da doença por meio da implantação e utilização de ferramentas de prevenção, diagnóstico e tratamento recomendadas pela OMS.
Estratégia Técnica Mundial para a Malária da OMS (2016-2030)
Em maio de 2015, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a Estratégia Técnica Mundial para a Malária da OMS 2016-2030, um plano de 15 anos para todos os países que trabalham para controlar e eliminar a malária. A estratégia fixa metas ambiciosas para 2030, tais como a redução da incidência e a mortalidade por malária em ao menos 90%, a eliminação da doença em no mínimo 35 países e a prevenção de sua reintrodução em todos os países que e já estão livres dela.
As metas intermediárias para 2020 consistem em uma redução da incidência e mortalidade em 40% e a eliminação da doença em no mínimo 10 países. Menos da metade dos 91 países com transmissão de malária estão no caminho para alcançar essas metas.
No entanto, há expectativas positivas de que, em 2020, a meta para a eliminação seja alcançada. Segundo o relatório da OMS “Eliminação da malária”, publicada em 2016, 21 países têm possibilidades de alcançar zero mortes de indígenas pela doença ao menos em um ano até 2020.
Eliminação da malária
Nos últimos anos, sete países foram certificados pela diretora-geral da OMS em relação à eliminação da malária: Emirados Árabes Unidos (2007), Marrocos (2010), Turcomenistão (2010), Armênia (2011), Maldivas (2015), Sri Lanka (2016) e Quirguistão (2016). Essa certificação é concedida pela OMS quando os países alcançam a meta de pelo menos três anos consecutivos com zero casos de malária contraídos localmente.
Em 2015, a Região Europeia da OMS conseguiu interromper a transmissão da malária entre indígenas e foi declarada como livre da malária no ano seguinte. A Região tem mantido esse status desde então e países em risco de reintrodução da doença estão fortalecendo seus esforços para proteger suas populações do risco de uma nova exposição à doença.
Aproveitando a inovação
Os progressos futuros na luta para prevenir a malária provavelmente serão moldados por avanços e inovações tecnológicas em novas ferramentas, em particular novas intervenções para o controle de vetores e, possivelmente, uma vacina.
A Região Africana da OMS vai anunciar nesta segunda-feira (24) os três países que participarão do programa experimental de vacinação contra a malária coordenado pela OMS, que terá início em algumas áreas em 2018. A vacina injetável, conhecida como “RTS,S”, foi desenvolvida para proteger as crianças africanas e será avaliada de forma experimental como instrumento complementar ao controle da malária, e pode ser adicionada ao pacote básico de medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento da doença recomendados pela OMS.
O Dia Mundial da Malária é celebrado na Semana Mundial de Imunização (24 a 30 de abril), em que se defende o uso de vacinas para proteger a população contra 26 doenças. Em geral, calcula-se que a vacinação evita entre 2 e 3 milhões de mortes por ano.
Reduções na incidência e mortalidade por malária (2010-2015)
Região da OMS | Redução da taxa de incidência de casos |
Redução da taxa de mortalidade |
Europa | 100% | 100% |
Sudeste Asiático | 54% | 46% |
Américas | 31% | 37% |
Pacífico Ocidental | 30% | 58% |
África | 21% | 31% |
Mediterrâneo Oriental | 11% | 6% |
Global | 21% | 29% |
Fonte: Opas