Esta semana divulgamos mais um resumo de artigo que integra o livro “A Saúde no Brasil em 2030 – Diretrizes para a Prospecção Estratégica do Sistema de Saúde Brasileiro”. A publicação, disponível para download na íntegra aqui, sintetiza os estudos realizados por uma ampla gama de especialistas e está organizado em duas partes.
Na sequência de textos do primeiro volume da produção “A Saúde no Brasil em 2030” o quinto estudo, “Ontem, hoje e 2030: tendências do sistema mundial – com ênfase na América do Sul”, cuja autoria é de Fiori (2013), explica que a empreitada mais complicada de todas as interpretações históricas ou de conjunturas é o recorte do tempo e a escolha dos acontecimentos. O mesmo acontece com a atividade de prospecção do futuro.
Partindo dessa ponderação, esse estudioso apresenta duas grandes transformações nos contextos geopolítico e econômico, que provavelmente se intensificarão até 2030: “(i) a crescente projeção da liderança diplomática e econômica do Brasil, dentro da América Latina; e (ii) o aumento exponencial da importância da China para o funcionamento e o crescimento da economia regional”(p. 215).
O autor segue ilustrando qualidades que o Brasil possui ressaltando algumas de suas características como, por exemplo, o PIB que está em torno de 1.729.000 milhões de dólares (Fiori, 2013, p. 216), mais do que o dobro da soma do produto de todos os países da América do Sul. Destaca também que Brasil domina metade da população e do produto sul-americano e é o ator regional mais importante no contexto geopolítico dessa região e vem aumentando sua atuação na América Central e Caribe. Além de ter cooperado com a ampliação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e com a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e do Conselho Sul-Americano de Defesa, entre outros. Ou seja, o país ganhou importância real nos últimos dez anos, em sua região, e o futuro da América do Sul será cada vez mais dependente de suas escolhas e decisões.
Fiori (2013) afirma que a liderança política e econômica do Brasil é incontestável, mesmo que o país prossiga lidando com a desaceleração do projeto de integração regional, consequente da crise de 2008, que aprofundou as diferenças econômicas entre os integrantes da região a que pertence. Além disso, o Brasil ainda não tem condições de competir ou questionar o poder dos Estados Unidos da América (EUA), que voltou com o ativismo militar dentro da região.
Assim, do ponto de vista econômico, a região deve manter sua condição de periferia econômica exportadora. Do ponto de vista político, da segurança e da defesa continental, o mais provável é que a América do Sul continue sob a proteção norte-americana embora seja desejável que os países da região se aliem para “serem capazes de dizer “não”, quando necessário, e de se defender, quando inevitável” (Fiori, 2013, p. 220). Vale lembrar que os EUA, historicamente, não têm limites com seu processo expansivo e não deixa lugar para neutralidades.
Portanto, o Brasil deverá refletir sobre os objetivos de sua inserção internacional ao decidir sobre suas estratégias econômicas nacionais. Nesse âmbito, o autor percebe ao menos duas situações. O Brasil pode manter-se como sócio preferencial dos EUA na administração de sua hegemonia continental, como o Canadá, ou pode investir em sua capacidade de decisão estratégica autônoma com uma agenda internacional calcada em relações e alianças possíveis. Quanto a essa opção, Fiori (2013) sugere a construção de uma agenda comum entre a China, Índia, Brasil e África do Sul porque esses quatro países ocupam posição de destaque nas suas respectivas regiões por conta dos seus territórios, populações e economias. No entanto, as diferenças de interesses, autonomia de decisões e perspectivas estratégicas, no contexto internacional, devem ser reconhecidas.
“O Brasil terá que decidir seu lugar no mundo (…) e terá que decidir se quer ou não, ter algum dia a capacidade de sustentar suas posições fora da América do Sul, com seu próprio poder militar. De qualquer maneira, nas próximas duas décadas, o grande desafio brasileiro será conduzir um movimento de expansão do seu poder regional (…) sem utilizar a violência bélica que foi usada pelos europeus, e sem se propor conquistar para civilizar e comandar a história e o destino dos países mais fracos.” (Fiori, 2013, p. 227).
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*Resumo elaborado por Maria Thereza Fortes
Equipe Saúde Amanhã, 12/01/2015