Pesquisa feita com 20 milhões de pessoas de 200 países aponta que há 640 milhões de obesos no mundo e que 1 em cada 5 indivíduos terá o problema em 2025. Especialistas dizem que ações globais são necessárias.
Nos últimos 40 anos, houve um aumento surpreendente no número de obesos no mundo. De 105 milhões em 1975, para 641 milhões em 2014. Os dados são do maior estudo global já feito sobre o Índice de Massa Corporal (IMC), o principal parâmetro usado para medir a obesidade.
A cada década, segundo o estudo, a população mundial se tornou 1,5 kg mais pesada. Se a taxa de obesidade continuar nesse ritmo, em 2025, cerca de um quinto dos homens (18%) e mulheres (21%) em todo o mundo serão obesos e mais mais de 6% dos homens e 9% das mulheres serão severamente obesos.
“O número de pessoas no mundo cujo peso representa uma ameaça séria para a saúde nunca foi tão alto”, disse Majid Ezzati, professor da escola de saúde pública do Imperial College of London, na Inglaterra, e principal autor do trabalho.
Para avaliar as tendências globais do Índice de Massa Corporal (IMC), os pesquisadores analisaram informações sobre peso e altura de quase 20 milhões de adultos de 200 países com a colaboração da Organização Mundial da Saúde e de 700 pesquisadores ligados a universidades e instituições de todo o mundo. Trinta e um pesquisadores brasileiros de diversos universidades, institutos de pesquisa e hospitais de norte a sul do País participaram do esforço.
A pesquisa pode ser lida na íntegra na revista científica The Lancet.
A edição online permite consultar os dados de cada país.
O Índice de Massa Corporal é uma forma de calcular se uma pessoa tem peso ou saudável ou não considerando seus quilos em relação à superfície corporal. Na prática, o IMC é obtido por meio de uma conta: divide-se o peso da pessoa (em quilos) pelo quadrado da sua altura (em metros). Há uma tabela para classificar os resultados, indicando se o indivíduo tem peso normal, se está abaixo, acima ou muito acima do peso. Ter IMC 25 significa acima do peso. Alcançar IMC 30 quer dizer que a pessoa está obesa. Se chegar ao IMC 40, entrou na categoria obesidade mórbida.
Embora haja críticas quanto ao uso do IMC, que mede a obesidade a partir do peso e da altura e não leva em conta o que nesse peso é gordura e o que é massa, o parâmetro do estudo é considerado importante e válido por causa das grandes dimensões da amostra estudada.
As consequências da convivência com o excesso de peso podem ser avaliadas do ponto de vista individual e social. Crescem no mundo os movimentos que buscam a inclusão social dos obesos. Por exemplo, com a inserção de cadeiras maiores e sem tarifa diferenciada no transportes. Há também uma tendência de buscar uma moda que respeite os tamanhos maiores. Do ponto de vista médico, porém, não houve revisão do status da obesidade como fator de risco para diversas doenças.
A obesidade, segundo a Organização Mundial de Saúde, é comprovadamente um fator de risco para uma série de doenças, incluindo diabetes, problemas cardíacos e câncer (endométrio, câncer de mama e do colo do útero).
Com o passar do tempo, pela gravidade de doenças associadas à condição, o excesso de peso passou a ser considerado uma doença em si e, por isso, o mundo olha atento para o crescimento do fenômeno.
O que fazer?
O professor Ezzati, da Escola de Saúde Pública do Imperial College, tem dito que a epidemia de obesidade que vivemos já se tornou muito extensa para ser combatida apenas com remédios como drogas para diminuir a pressão do sangue ou tratamento para diabetes somente, ou com algumas vias a mais para bicicleta. Na verdade, muitos países sequer conseguem oferecer esse conjunto de opções regularmente.
O pesquisador acredita que a luta contra o excesso de peso deve estar amparada por ações mundiais tomadas de forma coordenada com participação da Organização Mundial de Saúde e de outros organismos internacionais. Ou seja, uma intervenção poderosa para conter um inimigo poderoso da saúde global. Um dos caminhos seria melhorar o acesso aos alimentos considerados saudáveis e elevar os impostos para alimentos que chama de não saudáveis – com alto teor de açúcar e aqueles muito processados (industrializados).
O conjunto de profissionais que participou do levantamento fez questão de deixar claro que a descoberta do aumento do número de obesos não pode fazer sombra à miséria, desnutrição e baixo peso que seguem matando crianças nas regiões mais pobres do mundo. A condição ainda continua prevalente em várias partes do mundo. Por exemplo, no sul da Ásia quase um quarto da população ainda está abaixo do peso. Na África, em especial no leste e no centro, os níveis de baixo peso ainda permanecem superior a 12% em mulheres e 15% nos homens.
DSS.org, 01/04/16